sexta-feira, julho 06, 2012
O que é ser bacante hoje em dia?
Ser bacante é isso mesmo: “amar e respeitar a tertúlia (…) nunca atraiçoar a confiança que me foi depositada (…) um por todos e todos por um”. Até há bem pouco tempo atrás pensava que éramos apenas um grupo de gajos que se juntavam para beber uns copos e cantar umas cantigas, hoje, sei que somos muito mais que isso. Passo a explicar,
A semana passada fui ao tropical tomar o café da manhã. É a melhor hora do tropical: ainda se sente o cheiro pestilento a cerveja naquela calçada, e o café é óptimo para as pessoas que têm dificuldade em acordar cedo. Sentei-me, comecei a apreciar a manhã e eis que vejo um “irmão” bacante a vir na minha direcção. Não perdi tempo e convidei-o a sentar-se comigo na mesa para dois dedos de conversa:
- Então como vão esses exames_ perguntei eu.
- Bla, bla, bla _ respondeu ele.
- Boa, já sabes: tens de lhe dar forte _ conclui, enfadado.
-Olha, estive com um amigo teu nos HUC _disse ele.
- Ai sim? _perguntei, com desejo que a conversa ficasse por ali _ e que foste lá fazer?
Este é um daqueles momentos em que precisam de confiar, cegamente, na pessoa que está à vossa frente para lhe conterem o que de facto foram lá fazer. A maioria das pessoas mente.
- Sabes como é, uma gripe _seria a mentira acertada.
- Oh pá, nem vais acreditar, estava a fazer um exame e comecei a largar-me todo. Aquela merda não parava, tive de ir aos HUC. _ Esta é aquela verdade inofensiva que não devem contar a qualquer pessoa. O risco de alguém escrever um texto no blog a contar a aventura é muito grande. O nosso irmão nem pensou duas vezes, sabia que tinha ali “um Sésamo que nunca se abre”.
Ser Bacante é assim. Encontrar alguém que passou pelos mesmos rituais que nós, em quem podemos depositar toda a nossa confiança sabendo de antemão que essa pessoa a vai guardar a qualquer preço. O nosso “irmão” podia ter ficado calado, eu não saberia daquele pequeno desarranjo intestinal que o levou a desistir do exame, que fez com que o INEM fosse chamado às instalações da FDUC, que o obrigou a ter de entregar uma justificação ao Sr. Varandas em plenos Gerais em dia de chamada para orais. Não o fez, e com isso tornou-se um bacante de corpo e alma.
Claro que meu dever era não enaltecer a figura nobre deste nosso nobre “irmão” mas o nosso juramento termina com “um por todos e todos por um”. Que tipo de bacante seria eu?
Nesse dia paguei eu o café, levantei-me para ir trabalhar, ou fazer outra coisa qualquer, e dei-lhe um grande abraço de amizade acompanhado de dois beijos, sentidos, na face (daí a umas horas viria a saber que estava com varicela, bastante transmissível entre adultos). Despedi-me dele com um: -“És um verdadeiro Bacante. Agora vai ver se estudas para não prescreveres”.
Um abraço Bacante
Sardinha
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6 comentários:
Fantástico!
Grão, a tua discrição é um hino para qualquer bacante.
Almancil
Sabem que podem contar comigo para o que for.
Será que vem mais alguém, para além de nós, ao blog?
Abraço
Sardinha
Ficamos parados durante algum tempo e pessoal afastou-se, mas aos pocuos vêm-se.
Almancil
Foi lindo, chorei a rir quando o Sardinha,passado dois segundos de ter sabido, me telefonou a contar o "segredo"
Arrigas
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