segunda-feira, julho 26, 2010
No meu tempo
No meu tempo os jornalistas eram Homens com H grande. A profissão de jornalista era tida como algo de sério.
Sempre que havia um conflito numa qualquer parte recôndita do mundo, lá ia um intrépido repórter, fotografo, câmara, filmar os combates travados, muitas das vezes debaixo de fogo.
Nem sempre corria bem, claro. Alguns eram vítimas do fogo cruzado, outros ficavam estropiados para a vida (como a jornalista da SIC, que a caminho de Bagdad levou com um tiro na nádega, “nas nalgas”, como diz um amigo meu).
No geral, eram vistos como Homens de armas, que, sem usar uma, iam de encontro ao perigo e os seus nomes ficavam para sempre nas prateleiras dos heróis da nossa infância. Quem não se lembra do Artur Albarran na Guerra do Golfo, ou a arrear na mulher? O Rodrigues dos Santos, sempre o avançado da RTP para a cobertura dos conflitos? O Sousa Martins….
Espera….O Sousa Martins?
Fixem este nome pois ele vai ficar na história do jornalismo Português. O jornalista da TVI que esteve na África do Sul será um novo ícone para a juventude portuguesa, e isso não afigura nada de bom.
Sousa Martins é um exemplo do bom trabalho feito pelos nossos patrícios nas lides jornalísticas. Assim que soube que ia para o Sul de África, toca a preparar as coisas para o passeio.
E, claro, que melhor maneira de se aprontar senão seguir as recomendações próprias para a altura:
Como em África são todos pretos, e para não passar desapercebido, toca a fazer solário até esturrar,
Como África é toda igual, seja no Senegal ou na África do Sul, toca a levar uma roupinha leve e clara, para suportar o calor.
E lá foi….
Que surpresa que não deve ter sido quando ao chegar a Joanesburgo verificou que os Africanos não são todos pretos, ou que, afinal o Inverno lá é frio, chegando perto dos zero graus durante a noite.
Como se devem ter sentido os nativos daquelas bandas ao ver um homem, qual Vasco da Gama, chegar àquele canto do Planeta cheio de echarpes coloridas e…bem…escuro demais para ser perto e baixo demais para ser branco.
O que deve ter sentido o câmara, quando o colorido todo atraia as atenções indesejadas num bairro como o Swetto. E, naquelas noites frias, quando se aninhavam os dois e sonhavam, não com o Mundial, mas com as quentes praias do Allgarve.
Aos olhos das nossas crianças a echarpe do Sousa Martins será um exemplo de tolerância e aceitação do outro. Do intrépido jornalista da Bola ou do Record que dormia profundamente enquanto o seu quarto estava a ser saqueado, os seus amigos violentamente agredidos, desse ninguém se recordará.
Assim termina uma página de ouro do jornalismo Português e se inicia uma lilás.
Sardinha
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2 comentários:
Adorei este post.
Muito bom.
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