quinta-feira, janeiro 27, 2011
Um crime de lesa-majestade
Já sabia que as pessoas que cursavam Direito ficavam com comportamentos estranhos. Que os professores da nossa Faculdade tratavam os alunos (exceptuando os Brasileiros) como verdadeiros animais. Ou que a elite dos nossos tribunais era dada a comportamentos próprios do século XVII ou XVIII (pelo menos é o que diz o bastonário de muitos colegas nossos). Agora, o que não sabia era que, pela sua ignomínia, existia um crime que tornaria o seu perpetro digno de castigo.
Escondo-me nas catacumbas do Tribunal, onde, espero, não chegue o tão longo braço da Justiça. Aqui deixo o meu testemunho para as gerações vindouras.
Estou a assessorar os tribunais (que é como quem diz, ajudo os oficiais de justiça). Os escrivães são “boa gente” que olham para nós, licenciados de sucesso, com admiração e respeito
O meu trabalho é rotineiro, começo o dia numa secção, onde entram todo o tipo de advogados, os estagiários, aqueles que eu conheço, e os outros. A meio do dia, vou com um amigo almoçar e aproveito para degustar o vinho destes Restaurants (nunca se sabe quando serão úteis para um jantar de tertúlia). Passo a tarde a enviar cartas a advogados, onde deixo um aroma a Borba, Redondo ou Tasca do “ti Zé António”. No final do dia vou, com os escrivães, levar uns processos aos gabinetes dos Juízes e é neste período de tempo que a tentação aperta.
Ontem, enquanto levava os processos deu-me uma terrível vontade de desperdiçar algum do néctar dos deuses que estava á horas a ser degustado. Dirigi-me à casa de banho “dos Juízes”, quando um escrivão vem a correr na minha direcção:
- Pára! Pára! Que vais fazer? Essa é a casa de Banho dos Juízes.
(Era o momento de Brilhar.)
- Estás doido? – Disse eu!
- Não faças isso. – Dizia o Rapaz, enquanto me tentava agarrar – Os juízes podem ouvir.
Sabem, numa situação destas não existe forma de recuar pois toda a admiração por nós desaparece.
Avencei, e fiz o meu serviço. Quando sai os olhos dele brilhavam como os de uma criança a quem é dado a conhecer algo novo.
Claro que eu sabia que não tinha nada a perder e que ele nunca tentará repetir a proeza. É isso que nos separa.
Pelo sorriso e gargalhada de todos na secção valeu a pena.
Um abraço Bacante a todos.
Sardinha
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1 comentário:
Sardinha: Grão. Ah, ah.
Que imagem.
Almancil
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